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O RAMO DE OURO
 

"O Ramo de Ouro é uma das obras fundamentais da antropologia, onde temas centrais da disciplina são abordados. Sem nunca ter feito pesquisa de campo, Frazer reúne uma enorme diversidade de mitos, lendas e relatos de magia e religião, dos mais diferentes povos do mundo, debatendo a questão principal do "deus imolado".

AS ANALOGIAS
O que Frazer tenta responder  com suas comparações ao longo desta obra
 

Em Nemi, perto de Roma, havia um santuário onde, até os tempos imperiais, Diana, deusa dos bosques e dos animais e promotora, da fecundidade, era cultuada com o seu consorte masculino, Vírbio. A regra do templo era a de que qualquer homem podia ser o seu sacerdote e tomar o título de rei do bosque, desde que primeiro arrancasse um ramo — o ramo de ouro — de uma certa árvore sagrada do bosque em que ficava o templo e, em seguida, matasse o sacerdote. Era essa a modalidade regular de sucessão no sacerdócio. O objetivo de O ramo de ouro é responder a duas perguntas: por que o sacerdote tinha de matar seu predecessor, e por que devia, primeiro, colher o ramo?

 

Como não há uma resposta simples para nenhuma das duas perguntas, Frazer recolhe e compara analogias com o costume de Nemi. Mostrando a existência de regras semelhantes em todo o mundo e através de toda a história, ele espera chegar à compreensão da maneira pela qual a mente primitiva funciona para, a partir dessa compreensão, lançar luz sobre a regra do santuário de Nemi. Ao recolher analogias, Frazer não busca paralelos totais, mas divide a tradição de Nemi em suas partes componentes, examinando-as uma a uma. Na verdade, cada uma de suas descobertas estabelecidas como evidências pode ser usada em relação a mais de um aspecto da questão.

 

Em todo O ramo de ouro, o interesse de Frazer se volta para a maneira pela qual o pensamento primitivo busca controlar e regular o mundo. De acordo com ele, o problema da causalidade — como uma coisa afeta outra — pode ser enfrentado através de dois tipos de associação. O primeiro é a associação pela similaridade, isto é, uma causa se assemelha ao seu efeito. Por exemplo, uma pessoa que deseje fazer mal a um inimigo destruirá uma imagem dele, na esperança de que isso tenha repercussões sobre a pessoa visada. A segunda é a associação por contiguidade, isto é, as coisas que estiveram juntas e foram depois separadas continuam a manter uma relação de influência mútua. Nesse caso, um objeto pessoal do inimigo será destruído, e não a sua imagem.

 

Essas duas modalidades de associação também se aplicam à própria estrutura de O ramo de ouro. Em sua seleção de evidências, Frazer relaciona o sacerdócio de Nemi com aquilo que lhe é semelhante em outras culturas e outros períodos, isto é, personagens sagradas que eram mortas, ritualmente ou não, e com o que lhe é contíguo, como, por exemplo, a natureza da deusa de Nemi, os mitos do lugar do culto e suas observancias religiosas. Há, portanto, uma ligação crucial entre as evidências de Frazer e seu método de interpretá-las, entre a prática e a teoria.

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