Rabiscando Antropologia
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O Ramo
de Ouro Livro
A ARTE DA MAGIA E A EVOLUÇÃO DOS REIS
Frazer começa descrevendo a regra de acesso ao sacerdócio de Nemi para passar em seguida ao estudo da magia. A magia é relevante para a resposta à pergunta: porque o rei tem de morrer (o deus que morre)? Mas também ajuda a esclarecer o papel do rei do bosque durante sua existência, pois a magia é um meio de controlar a natureza e, portanto, uma função essencial do ofício real. Frazer distingue dois tipos de magia: a magia imitativa (ou por similaridade) — a chuva cairá depois de uma cerimônia que, de certa maneira, a imita; e a magia contagiosa (ou por contiguidade) — um amante pode conquistar a afeição de sua amada lançando um encantamento sobre mechas do cabelo dela.
Em seguida, Frazer explora a significação do bosque de Nemi e, mais particularmente, da árvore da qual o pretendente ao ofício de sacerdote tinha de arrancar um ramo. E consta que, em muitas sociedades, atribuem-se poderes fecundantes às árvores, e que, na Europa antiga, o carvalho era, sob esse aspecto, a mais importante delas. Ê adequado, portanto, que Diana, deusa da fertilidade, tenha um santuário num bosque, e deduzimos que sua árvore sagrada deve ter sido um carvalho. Vírbio, parceiro de Diana no santuário, aparece como uma manifestação local de Júpiter, o deus do carvalho e do céu, e o rei do bosque como a encarnação humana desse deus.
Os thulungs do Nepal dançam em torno de um mastro que representa a árvore cósmica e esguicham um liquido fermentado de recipientes de couro, imitando os poderes reprodutivos masculinos e estimulando a fertilidade da terra.
CAPÍTULO I (versão Brasil 1982)
Aqui você encontra tambem:
O rei do bosque
Diana e Vírbio
Ártemis e Hipólito
Recapitulação
Os reis sacerdotes
A magia simpática
Os princípios da magia
Magia homeopática ou imitativa
Magia contagiosa
A evolução do mago
O controle mágico das condições atmosféricas
O controle mágico da chuva
Os magos como reis
Os reis divinos
Deuses humanos encarnados
Reis de setores da natureza
O culto das árvores
Os espíritos das árvores
Poderes benéficos dos espíritos das árvores
Resquícios do culto das árvores na Europa moderna
A influência dos sexos sobre a vegetação
O casamento sagrado
Os reis de Roma
O culto do carvalho
ENTENDENDO
UM POUCO MAIS
Castigando os deuses.
Os chineses são peritos na arte de tomar de assalto o reino dos céus. Assim, quando desejam chuva, fazem um enorme dragão de papel ou de madeira para representar o deus da chuva e o levam em procissão. Se não chover, o dragão é amaldiçoado e destruído. Em outras ocasiões, ameaçam e espancam o deus se ele não fizer chover; por vezes, privam-no publicamente da condição divina. Por outro lado, se a desejada chuva cai, o deus é promovido a uma dignidade superior, por um decreto imperial. Mais ou menos no ano de 1710, a ilha de Tsong-ming, que pertence à província de Nanquim, foi assolada por uma seca. O vice-rei da província, depois que as habituais tentativas de comover o coração da divindade local com a queima de incenso mostraram-se inúteis, mandou dizer-lhe que, se não chovesse até determinado dia, ela seria expulsa da cidade e o seu templo seria arrasado. A ameaça não surtiu efeito junto à teimosa divindade; o dia designado chegou e passou, e não choveu. Indignado, o vice-rei proibiu que o povo fizesse novas oferendas no santuário do deus insensível e mandou fechar e selar as portas do templo. Isso produziu, sem demora, o efeito desejado. Suspensas as suas fontes de abastecimento, o ídolo não teve outra solução senão render-se. A chuva caiu dentro de poucos dias, e o deus voltou a gozar do afeto de seus fiéis.
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Quando Santo Antonio não dá o amor desejado ao fiel, costuma-se pô-lo de cabeça para baixo num copo d'agua. Será que foi da China que herdamos essa idéia de castigar os deuses?
Renaldo Gomes