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Essa descrição geral do costume pode ser ilustrada agora com exemplos particulares. Assim, na festa chamada de Toxcatl, a maior do ano mexicano, um jovem era anualmente sacrificado personificando Tezcatlipoca, "o deus dos deuses", depois de ter sido mantido e adorado como a grande divindade em pessoa durante todo um ano. De acordo com o velho franciscano Sahagun, nossa melhor autoridade sobre a religião asteca, o sacrifício do deus humano era celebrado na Páscoa ou uns poucos dias depois, correspondendo, portanto, se ele estiver certo, na data e em caráter, às festas cristãs da morte e da ressurreição do Redentor. 

 

- A eliminação do deus no México

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O BODE EXPIATÓRIO
 

Tendo examinado a morte do rei do bosque como a personificação da vegetação, Frazer passa a pesquisar outro aspecto de sua morte, isto é, sua morte como bode expiatório. Ele constata uma variedade de práticas pelas quais pessoas procuram transferir males de si próprias para um objeto, uma planta, um animal, ou mesmo para outro ser humano, que era então morto ou expulso da sociedade. A transferência do mal se faz pela magia contagiosa, e a expulsão do mal, pela magia imitativa.

 

Na Roma antiga, a cerimônia anual da expulsão dos males era ao mesmo tempo um rito de fertilidade, já que os males que afetam as plantações estavam entre os males expulsos. Essa dupla finalidade permite a Frazer comparar a morte do bode expiatório com as vítimas humanas sacrificadas em favor da continuação da força dos deuses astecas da fertilidade. E com isso ele volta a um tema anterior, a eliminação de um ser humano que personifica um deus. Mas o objetivo dessa eliminação agora não é apenas beneficiar as plantações, mas também evitar as más influências.

 

Se aplicarmos isso à morte do rei do bosque, veremos que ele foi morto tanto como personificação da vegetação, e nesse caso o foi pela imitação, representando a sua morte e o reinado de seu sucessor, a morte e o renascimento da natureza, como na condição de bode expiatório, para que a sua fraqueza e senilidade não contagiassem a força reprodutiva da natureza.

CAPÍTULO VI (versão Brasil 1982)
Aqui você encontra:

1. A transferência do mal

2. Sobre bodes expiatórios

3. Bodes expiatórios humanos na Antiguidade clássica

4. A eliminação do deus no México

5. As Saturnais e festas congêneres

 

Conclusão

1. Entre o céu e a terra

2. O mito de Bálder

3. As festas dos fogos da Europa

4. A interpretação das festas dos fogos

5. A queima de seres humanos nas fogueiras

6. As flores mágicas da véspera do solsticio de verão

7. Bálder e o visco

8. Alma externa

9. O ramo de ouro

10. Adeus a Nemi

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O poder ambivalente dos mortos e expresso de maneira particularmente clara num ritual japones. Uma vez por ano, os espiritos dos ancestrais sao bem recebidos e festejados, mas, na noite seguinte, como vemos acima, são expulsos com pedradas para que a sua permanencia nao venha a causar danos.

 

- O bode expiatório humano

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A onipresença dos demônios;

Um homem doente com o Diabo, que veio buscar-lhe a alma, e o seu anjo da guarda. Manuscrito medieval, Cod. Gall, 28, foi. 5V, Bayerische Staatsbibliothek, Munique.

Porpa, funcionário real, e sua mulher são mostrados aqui, depois da morte, recebendo presentes de seus filhos vivos. Caixa de madeira egípcia, c. 2580 a.C. Gulbenkian Museum of Oriental Art, Durham.

Gravura do seculo XVIII, Bodleian Library, Oxford.

ENTENDENDO
UM POUCO MAIS
O bode expiatório humano.

Na Grécia antiga, também há registros do uso de bodes expiatórios humanos. Na cidade em que nasceu Plutarco, Queronéia, uma cerimónia desse tipo era realizada pelo principal magistrado, na sede do governo e por todo chefe de família, em sua casa: era a chamada "expulsão da fome". Um escravo era açoitado com varas de agnus castus e posto na rua com as palavras: "Fora com a fome, e que entrem a riqueza e a saúde". Quando Plutarco ocupou o cargo de principal magistrado de sua cidade, realizou essa cerimónia na sede do governo e registrou a discussão a que o costume deu origem posteriormente.

Entre os poderes que devem ser respeitados estão os espíritos dos mortos, porque eles ainda podem afetar os vivos, para o bem ou para o mal.

A vítima asteca, com vestes do deus, toca música e dança antes de ser sacrificada e esquartejada. Kings!orough, Antiquities of Mexico, 1830-1834, Bodleian Library, Oxford.

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